Etnografia: O método da Antropologia - A proposta de Geertz de uma ciência interpretativa em busca de significados e sua aproximação com a história social.

 

           

Bronislaw Malinowski no capítulo de introdução de sua obra “Argonautas do Pacifico Ocidental”, começa por delimitar seu objetivo durante o trabalho com o povo das Ilhas Trobriand, ele adianta que objetiva descrever ao leitor o Kula, sistema econômico que estava diretamente relacionado aos desejos, vaidades, ideias, ambições... (MALINOWSKI, 1976, p. 22). O interesse em estudar o sistema econômico da tribo provem do método moderno de se fazer antropologia e etnografia, na qual o etnógrafo se aproxima da tribo e busca compreendê-la, através da observação, tornando o trabalho da antropologia um trabalho interpretativo buscando um significado. Esta busca por entender o sistema econômico da tribo é o que diferencia a antropologia moderna da antropologia de Edward Burnett Tylor e Herbert Spencer, os primeiros, que buscavam entender a evolução das sociedades tendo como referencial a Europa que, para eles, era o ápice do desenvolvimento e civilização. Dividiam as sociedades em civilizadas e não civilizadas.

Malinowski trata a respeito do que o etnógrafo deve se atentar quanto ao trabalho de campo atendendo a: um objetivo genuinamente cientifico, a boas condições de trabalho (que é a permanência no meio da tribo, para que se compreenda com eficiência seus costumes e crenças) e a um método de coleta e manipulação do registro das evidencias (MALINOWSKI, 1976, p. 24). Observado seguimento deste roteiro, o etnógrafo então estará apto a observar o esquema básico da vida na tribo e entender como se desenvolveu seus costumes e crenças, porque este é o objetivo final para Malinowski, delinear as leis e padrões dos fenômenos culturais.

A observação e produção do esquema básico da vida na tribo tem por finalidade entender como se desenvolveram os costumes, a produção destes ritos é o que interessa ao etnógrafo, pois fenômenos parecidos entre tribos são comuns e no passado foram interpretados como estágios de evolução da cultura e de origem histórica comum entre todas os povos. E sobre isso, Franz Boas escreveu:

 

Enquanto anteriormente, identidades ou similaridades culturais eram consideradas provas incontroversas de conexão histórica ou mesmo de origem comum, a nova escola se recusa a considera-las como tal, interpretando-as como resultado do funcionamento uniforme da mente humana (BOAS, 2004, p. 27).

O trabalho antropológico busca entender quais são as origens destes pensamentos, costumes, crenças e ritos comuns entre os povos e como se afirmaram dentro destas culturas (BOAS, 2004 p.33). Para Franz Boas, a construção de um grande sistema de evolução só faria sentido se provassem que os fenômenos tiveram sempre a mesma origem, por isso objetiva a pesquisa antropológica no desenvolvimento do costume, buscando a compreensão das variadas formas sob as quais os costumes ocorreram e identificando a causa psicológica comum. Portanto, para Franz Boas, o trabalho antropológico, por meio da produção etnográfica, reconhece a particularidade de cada povo, e entende que ela se desenvolve a partir de sua própria lógica e o caminho para sua interpretação é o também desenvolvido por Boas, relativismo cultural.

Geertz toma mão da perspectiva de Max Weber quanto a sua conceitualização de homem, e estende para a formulação de seu pensamento a respeito da cultura. Dado então que, para Geertz a cultura são as teias de significados na qual o homem está amarrado, sua análise – trabalho da antropologia –, é a busca por significados. O que Malinowski fizera antes, ao esquematizar os costumes tribais para sua compreensão, a fim de buscar entender a origem e o desenvolvimento dos costumes procurando relativizar as semelhanças entre povos, era uma busca por compreender a cultura de uma civilização como um todo, entender um sistema econômico como o Kula lhe proporcionou identificar as condições em que se davam as relações sociais. Porém Geertz buscou compreender as relações do indivíduo e sua cultura, em um panorama geral, Malinowski analisou a ação da cultura sobre um povo, e Geertz a relação do indivíduo com a cultura.

Geertz argumenta que os próprios textos antropológicos são interpretações, e de “segunda mão”, pois somente o próprio nativo tem a verdadeira interpretação de sua cultura, e sua construção, ainda que, orientada pelo indivíduo que está realmente inserido naquela cultura é claramente um ato de imaginação (GEERTZ, 2008, p. 11). Tal como no estudo da História Social, a história do indivíduo comum e a sua relação com a sociedade através da cultura é o foco principal, a antropologia interpretativa busca relacionar o indivíduo à sua cultura, buscando compreender, a partir de suas ações o seu significado.

 Referências: 

- GEERTZ, Clifford. “Uma Descrição Densa: Por uma Teoria Interpretativa da Cultura“; “O impacto do conceito de cultura sobre o conceito de homem”. In: A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008.

- MALINOWSKI, B. Introdução. In: Os Argonautas do Pacífico Ocidental. SP: Abril Cultural, 1978.

-BOAS, F. “As limitações do método comparativo em Antropologia Social”. In: Castro, Celso. Franz Boas – Antropologia Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. p. 25-39.

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